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Allan Kardec

domingo, 31 de outubro de 2010

As várias faces da ansiedade

Escrito por Dr. Luiz Antonio de Paiva   
     Freud, o grande pesquisador da mente humana, já deduzira a mesma coisa ao afirmar: “O problema da ansiedade é um ponto de junção, ligando todas as espécies de questões mais importantes; um enigma, cuja solução deve inundar de luz toda a nossa vida mental.” No nosso inelutável enfrentamento com o desconforto da ansiedade, pois ela é inerente à vida, é que está a raiz dos nossos problemas.            Frequentemente adotamos atitudes disfuncionais, como tentar esconder a ansiedade ou negá-la, deslocá-la de objeto e outros mecanismos de defesa. Não raro, ela é a causa oculta dos transtornos alimentares, das dependências químicas, das atitudes auto-sabotadoras, como também é responsável pela busca de alívio em atividades como o jogo patológico, comprar compulsivamente, sexo compulsivo e até mesmo o trabalho excessivo que é a fuga mais bem aceita socialmente. Desta forma, acostumamo-nos a sempre ver a ansiedade como uma coisa negativa, um erro evolucionário.
     Entretanto, a ansiedade é imprescindível a nossa sobrevivência e crescimento, sendo responsável pelas grandes conquistas da civilização humana. Assim, temos duas faces da ansiedade que são naturais e legítimas, como a ansiedade natural e a ansiedade existencial, esta ligada à consciência da nossa própria mortalidade e aos questionamentos filosóficos e religiosos que fazemos com relação à razão e propósito da vida. A outra face, por vezes distorcida e hedionda, é a da ansiedade patológica ou neurótica, pois geradora de sofrimentos físicos e mentais de monta.
     A ansiedade natural origina-se da nossa consciência de sermos seres vulneráveis num mundo potencialmente ameaçador à nossa integridade e bem-estar. Ela é adequada e proporcional à situação que enfrentamos, e desaparece tão logo o objeto ou situação que a motivou é reconhecido e tratado. Na vida pós-moderna, é muito fácil a transformação da ansiedade natural em neurótica ou patológica. A dura realidade que enfrentamos implica num estresse que às vezes não é possível suportar. Enfrentamos a tensão de ganhar a vida num contexto extremamente competitivo, dentro de uma economia globalizada, em rápida mudança tecnológica e mesmo em suas regras e parâmetros. Criamos nossos filhos numa sociedade exigente, regida por valores consumistas e individualistas, que tendem a separar as famílias.
     A ansiedade neurótica provoca-nos um estado generalizado de alerta, em que reagimos desproporcionalmente à percepção de uma ameaça real ou imaginária ao nosso bem-estar. Suas formas mais brandas, a que damos o nome de estresse, tensão e preocupação, causam-nos irritabilidade, agitação e mal estar físico. Se estabelecida cronicamente, leva a uma hiperativação do sistema nervoso que costuma provocar estados de esgotamento e depressão. Em casos mais graves provoca sintomas físicos agudos e ataques de pânico, quando a pessoa, em intenso sofrimento, tem a sensação de que vai morrer ou ficar louca.
     A ansiedade existencial ou espiritual é pouco falada, mas não é menos real. Não raro, se ignorada e varrida para debaixo do tapete, transforma-se em formas graves de ansiedade patológica. Esta face mais sutil e profunda da ansiedade estimulou o ser humano a adentrar mais decisivamente o terreno da filosofia, da ética e da religião.


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