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Allan Kardec

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

As duas Faces da Nuvem



Não creias, amigo ignoto, em nuvens totalmente escuras.

Por mais sinistras que pareçam, cá de baixo, não deixam de ser

luminosas, vistas lá de cima.

É questão de perspectiva...

Quando um dia subires à estratosfera, verás que até o mais

espesso negror se dilui em luminosa alvura.

Não creias em vida perdida.

Não fales em derrota completa.

A vida é tão vasta, sublime e profunda que nenhuma desgraça a

pode inutilizar por completo.

Se a ignorância ou a perversidade dos homens te fecharem uma

porta, abre outra.

Se a perfídia dos inimigos ou a traição dos "amigos" demolirem

os palácios da tua opulência, levanta modesta choupana à beira da

estrada.

Ninguém te pode fazer infeliz a não ser tu mesmo.

Tu é que tens nas mãos as chaves do céu e do inferno.

"O reino de Deus está dentro de ti"...

A felicidade não está na periferia da tua vida está no centro do

teu ser.

Não é nos nervos, na carne, no sangue, no acaso ou no

destino que reside a verdadeira beatitude mas, sim, no

íntimo recesso da tua consciência.

Melhor uma choupana arraiada de sorrisos do que um palácio

afogado em lágrimas...

Deus te creou para a felicidade e quem pode frustrar os planos

do Onipotente?

Se a tua vida não é um dia cheio de sol por que não

poderia ser uma noite iluminada de estrelas?

Por que não poderia a tua felicidade ganhar em profundidade

o que talvez tenha perdido em extensão?

Por que não poderia a luz suave de miríades de astros

infundir-te na alma uma felicidade que nunca te deram os fulgores

solares?

Se não percebes o chilrear dos passarinhos e o chiar das

cigarras da zona diurna da vida por que não te habituas a escutar

as vozes discretas com que o silêncio noturno enche a tua solidão?

Há tanto misticismo nas fosforescências da Via-Láctea...

Há tanta sabedoria na reticência da luz sideral...

Há tanta eloqüência no mutismo das nebulosas longínquas...

Há tantas preces no sussurro das brisas noturnas...

Há tanta alma na argêntea placidez do luar...

Há tanta filosofia na vastidão pressaga do cosmos...

Há tanta beatitude na acerbidade da dor, quando iluminada por

um grande ideal...

Há tão profunda paz em pleno campo de batalha, quando o

homem compreendeu o porquê da luta e o sentido divino do sofrimento...

Por mais negra que seja a face humana das nuvens da tua vida

crê, meu amigo, que é luminosa a face voltada para as alturas da

Divindade.

(Do livro "De Alma para Alma", de Huberto Rohden)

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